Gordofobia compromete diagnóstico e tratamento da obesidade, alerta especialista

Isabel Gusmão
By -


O estigma em torno da obesidade ainda representa um dos principais obstáculos para o diagnóstico precoce e o tratamento adequado da doença no Brasil. A visão reducionista de que o excesso de peso é resultado apenas de escolhas individuais contribui para o atraso no cuidado, o aumento da gordofobia e o agravamento do sofrimento psíquico de pessoas que convivem com a condição.

O tema será debatido pela cirurgiã bariátrica Luciana Siqueira, vice-coordenadora do Programa de Residência de Cirurgia Bariátrica do Hospital das Clínicas, durante a aula “Estigma Social e Obesidade”, que integra a programação do II Simpósio de Neurociências, Comportamento e Mindfulness. O evento acontece na próxima sexta-feira (5), na Faculdade Pernambucana de Saúde.

Segundo a médica, a obesidade deve ser compreendida como uma doença crônica, que exige acompanhamento contínuo, acolhimento e respeito, assim como outras condições de saúde de longo prazo. “As pessoas com obesidade não precisam de julgamento, precisam de tratamento. O preconceito ainda é forte e, muitas vezes, parte dos próprios profissionais de saúde”, alerta.

Luciana destaca que cerca de 60% dos profissionais de saúde ainda reproduzem o estigma ao atender pacientes obesos, atribuindo toda a responsabilidade da doença ao indivíduo. Essa postura contribui para a chamada internalização do preconceito, o isolamento social e o adoecimento mental.

A cirurgiã reforça que os avanços no uso de medicações e nas abordagens clínicas evidenciam o caráter crônico da obesidade. “Quando o tratamento é interrompido, a doença retorna. Isso mostra que não se trata de uma falha de comportamento, mas de uma condição que requer cuidado contínuo”, explica.

Para a especialista, o enfrentamento da obesidade não se encerra com a cirurgia bariátrica. “É fundamental um acompanhamento multiprofissional ao longo da vida. Mudar a forma como a sociedade e os profissionais enxergam a obesidade é essencial para garantir um cuidado mais eficaz e humano”, conclui.


Foto/ Imagem: Freepik

#buttons=(Ok, Go it!) #days=(20)

Nosso site usa cookies para melhorar sua experiência.Ver Agora
Ok, Go it!