O estudo, intitulado “Panorama da Primeira Infância: O que o Brasil sabe, vive e pensa sobre os primeiros seis anos de vida”, apontou que 78% das crianças com até 3 anos e 94% das crianças de 4 a 6 anos fazem uso de telas todos os dias. Apesar de, muitas vezes, os aparelhos eletrônicos serem utilizados como alternativa para entreter os pequenos ou facilitar a rotina das famílias, especialistas alertam para os impactos dessa prática no desenvolvimento infantil.
A fonoaudióloga Maria Cecilia Oliveira, que atua no Centro TEA/NDI da UPA-E Professor Fernando Figueira (UPA-E Ibura), em Recife, reforça que o uso excessivo de telas pode comprometer o desenvolvimento da comunicação das crianças. “Mesmo sendo uma saída fundamental para muitas famílias, as telas terminam reduzindo o tempo de interação social e de comunicação social entre as crianças, bem como a exposição a estímulos linguísticos, o que pode afetar a capacidade de atenção e de processar informações, bem como o vocabulário e a articulação de palavras”, explica.
Segundo a profissional, sinais como dificuldades em iniciar ou manter conversas, compreender instruções, irritabilidade e alterações no sono podem indicar que a exposição às telas está excessiva. Ela orienta que os responsáveis estejam atentos a esses comportamentos e busquem estratégias para reduzir o tempo de tela de forma gradual e saudável.
Entre as sugestões estão a criação de horários específicos para atividades offline, incentivo a brincadeiras ao ar livre, leitura de histórias, escuta de músicas e promoção de momentos de conversa em família. “A leitura de histórias, o uso de músicas e atividades lúdicas estimulam a linguagem, a criatividade e o desenvolvimento social e emocional da criança”, afirma a fonoaudióloga.
O cuidado deve ser ainda maior quando se trata de crianças neurodivergentes, como aquelas atendidas no Centro TEA da UPA-E Ibura. “Além de intensificar os desafios de comunicação e interação, crianças neurodivergentes podem ter mais dificuldade em distinguir entre conteúdo relevante e irrelevante, o que pode afetar ainda mais sua capacidade de aprender e se comunicar”, destaca Maria Cecilia.
Ela também chama atenção para a falsa sensação de segurança que muitos conteúdos educativos podem passar. De acordo com a SBP, crianças menores de dois anos não devem ter contato com telas. Já entre dois e cinco anos, o tempo máximo recomendado é de uma hora por dia; de cinco a dez anos, duas horas; e adolescentes não devem ultrapassar três horas diárias. Em todos os casos, o uso deve ser supervisionado por um adulto, e o conteúdo, cuidadosamente selecionado.
A fonoaudióloga reforça que o equilíbrio entre o uso da tecnologia e atividades que favorecem o desenvolvimento da linguagem é essencial para garantir uma infância saudável e rica em interações reais. “O contato humano, o brincar e a conversa são insubstituíveis no desenvolvimento da criança”, conclui.
Foto/ Imagem: Isis Lima